Homenagem é concedida pelo jornal a cidadãos que
contribuem para um Estado melhor
Missionária Evangélica Flordelis, mãe de 50 filhos, quatro deles biológicos, recebe a medalha “Orgulho do Rio” do jornal O DIA, concedida a cidadãos que contribuem para um Estado melhor.
A missionária Flordelis tirou do tráfico, de terrenos baldios e de cracolândias, meninos e meninas que hoje torcem para que a Vara da Infância reconheça Flordelis como sua responsável.
Ela tem um instituto com seu nome em São Gonçalo, e diz tratar todos os filhos da mesma maneira. Ao receber o prêmio, a irmã afirmou que O DIA teve um papel importante em sua luta.
“Quando estava sob ameaças do tráfico, de um grupo de extermínio e procurada pelo então Juizado de Menores, que tentava arrancar as crianças de mim, o jornal O DIA me defendeu”, declarou ela.
Um momento emocionante da história de Flordelis foi quando ela tirou um menino da execução, num paredão em Jacarezinho. Ela soube pela mãe que ele estava “encomendado” e foi correndo para salvá-lo.
“A mulher pedia que eu orasse por ela, pois o garoto já estava ‘encomendado’. Larguei tudo e saí pela favela, tentando encontrá-lo. A turma do ‘bonde’ (soldados do tráfico) concordou em me levar até o chefão deles”, contou ela.
Flordelis encontrou o garoto momentos antes da execução e prometeu entregar sua vida por ele caso o menino fizesse algo errado. Finalmente o “chefão” mandou desamarrarem o garoto e a entregou, chamando-a de “louca”.
Mesmo em meio a uma vida cheia de riscos, Flordelis sempre usou a fé como escudo para protegê-la. A missionária mesmo já teve seu nome entre os das pessoas marcadas para morrer, mas jamais se intimidou.
Entre seus filhos, ela conta, há o que depois de ser gerente de tráfico de Manguinhos, hoje é seminarista, estuda direito e quer ser juiz. Outro que tinha o sonho de ser traficante como seus tios, hoje administra as finanças da família.
Flordelis explica que fugia da Justiça porque havia crianças que ela abrigava das quais o conselho tutelar as reintegrava a famílias onde foram abusadas. Em um desses casos os pais mataram uma criança.
Flordelis diz ainda conta como ficava indignada ao ver crianças indo para o tráfico e e nem mesmo suas próprias famílias faziam algo para salvá-las.
“Não me conformava com a omissão das mães. Quando viam os filhos ganharem armas para integrar a turma do ‘bonde’, se conformavam, certas de que não os teriam mais de volta. Não lutavam pelos seus filhos, para mudar aquilo”.
A missionária desde pequena aprendeu os valores cristãos. Ela cantava no grupo evangélico da qual o seu pai, Francisco dos Santos, tocava. Francisco morreu depois e Flordelis virou uma lutadora contra as leis da favela trazendo o sonho para os pequenos jovens perdidos.